Instituto para o Desenho Avançado – IDEA
Clube das Idéias 17» Reunião
dia 29.04.97
IAB/SP
Palestrante Hiroo Nanjo
Hiroo Nanjo formou-se em arquitetura na Universidade de Tóquio em 1973.
De 1975 a 1985 morou em São Paulo, tendo trabalhado em escritórios e empresas de arquitetura locais.
É titular do Atelier Nanjo, em Tóquio, desde 1985.
É bom estar vendo velhos amigos – o Hector, o Miguel Pereira neste auditório do IAB. O tempo tem passado – me lembro do ano de 1975 quando cheguei ao Brasil. Passei duas noites luxuosas no Hotel Hilton e depois me mudei para um pequeno hotel e fiquei procurando trabalho; passaram-se três meses até eu conseguir entrar no escritório do Guedes, onde encontrei estes meus amigos.
Trabalhei também 4 anos com Croce, Aflalo e Gasperini, e mais tarde na CNEC, com Hector como meu chefe – tive muitas experiências, desenvolvi vários projetos, em Recife, em Barcarena, em muitos lugares. Em 1985 voltei para o Japão, poucos dias antes da morte de Tancredo Neves, da qual tomei conhecimento quando vi a bandeira abaixada na embaixada brasileira em Tóquio.
Ontem, tivemos uma aula de arquitetura proferida pelo Fumihiko Maki, muito boa mesmo. Vou falar um pouco sobre a situação geral da arquitetura no Japão – especialmente Tóquio. Maki é um dos grandes nomes da arquitetura no mundo, e, é óbvio, no Japão também. Foi professor na Universidade de Tóquio, e hoje ele está aposentado, livre de compromissos acadêmicos. Se dedica totalmente ao seu escritório, com uma equipe de jovens arquitetos, que foram iniciados em seu próprio escritório, 2 a 5 anos antes de iniciar a prática profissional.
Maki lecionou em Havard, com estudantes de vários lugares do mundo, inclusive com alemães, que mais tarde o procuraram para trabalhar na Alemanha. Maki é o tipo que não precisa se preocupar em divulgar sua obra, caçar serviço, já que é muito procurado. Mas a situação no Japão não é assim para todos. O Japão passa por uma fase difícil. Nos anos 80 apresentou forte crescimento econômico, e foi possível construir muita coisa. Este boom econômico, chamado de “bubble” ( uma bolha de espuma), não tinha porém muito conteúdo.
Do ano 1990 para cá a economia japonesa está caindo – como referência temos a cotação que foi de 80 yens para 1 dólar, e que hoje está em 126 yens por 1 dólar, com uma queda de 50%. Quando voltei ao Japão peguei esta época de subida econômica, com projetos fantásticos. Peguei alguns, quando abri meu escritório em Tóquio, numa época em que o Brasil sofria com altas taxas de inflação. Nesta época desenvolvi vários projetos comerciais e públicos.
De 90 para cá, todavia, muitos destes projetos foram suspensos, e não foram construídos. Hoje a situação geral é de sofrimento, muito sofrimento, com o fechamento de muitos escritórios e um desemprego violento atingido a classe, cuja situação está piorando.
O JIA, Instituto de Arquitetos do Japão está discutindo questões como os honorários baixando, as coisas estão ficando feias. O Maki apresentou outra realidade, bem diferente… Queria falar agora aqui sobre dois aspectos que são muito importantes para nós japoneses: – a globalização (muitos estrangeiros chegando); – os arquitetos tradicionais sofrem com a força das construtoras.
A globalização se fez sentir no Japão quando estávamos construindo muita coisa, com a substituição de construções existentes, facilmente demolidas, por construções novas. Havia muitas oportunidades e isto trouxe vários profissionais estrangeiros, que acabaram por competir com os arquitetos locais. Os grandes (Tange, Maki, etc.) pegaram obras gigantescas – depois, apareceram Foster, Piano, Vinoly… a luta começou.
A presença dos estrangeiros se fez sentir por toda parte – há, por exemplo, um Aldo Rossi bem ao lado do prédio onde eu moro. Muitas novidades apareceram, já que os projetos de fora foram apoiados por altas tecnologias, criadas por fabricantes de materiais e construtoras. Por lei, os estrangeiros precisam ter associados japoneses, que acabam sendo as construtoras.
No Japão, as construtoras mantém-se como responsáveis pelo projeto e construção. Como trabalhar para grandes nomes internacionais é prestigioso, as construtoras desenvolvem todos os desenhos de detalhamento que estes solicitam, já que não há problema de dinheiro. Houve até casos de associação de escritórios estrangeiros com construtoras japonesas fora do Japão – como o Hongkong and Shangai Bank em Hongkong ( Foster e uma construtora japonesa).
Ontem visitei duas obras aqui (SESC/Pompéia e o Mube) – maravilhosas! O Maki ficou muito impressionado pelo seu alto valor arquitetônico. Se pensarmos na parte técnica – acabamentos, esquadrias, vidro, instalação – o Japão está na frente. Isto não é tanto fruto da habilidade dos arquitetos quanto das construtoras – isto deverá acontecer também no Brasil, no futuro.
Vejo, assim, duas tendências na arquitetura japonesa: – concorrer com os estrangeiros; – tentar concretizar idéias com tecnologias novas. O Bruno Padovano foi o único colega do Brasil a freqüentar meu escritório, trabalhando junto com minha equipe – outros só vieram passear em Tóquio. Mesmo os descendentes dos imigrantes japoneses no Brasil que se mudaram para o Japão não tem procurado meu escritório.
Os colegas japoneses procuram intercâmbio, um movimento na Ásia – com a China, com os outros países da região. É também um reflexo da globalização… Em Singapura, por exemplo, dois terços dos prédios são do Tange, do Kurokawa, do Johnson; virou um palco para os grandes arquitetos do mundo, uma espécie de Manhattan. Em Shangai, em Bejing, todos se parecem com Manhattan – com dezenas de edifícios de 100 andares! Entrei recentemente numa concorrência com um escritório canadense – perdi por causa do preço. Sei que Berlim está com muito trabalho, e que em Paris trabalham vários arquitetos japoneses e norte-americanos. É triste a ausência de arquitetos brasileiros; estão faltando, e deveriam partir para o mundo.
Vejo que os escritórios aqui também estão começando a trabalhar com CAD, com a INTERNET. Assim, seria possível, pelo fuso horário, trabalhar 24 horas sem parar, já que temos 12 horas de diferença. Assim talvez poderia- se competir com os estrangeiros – que terrível! Ao longo deste 12 anos que atuo em Tóquio sinto cada vez mais que uma integração maior entre Brasil e Japão deveria ser feita. Sempre que posso, estou tentando trazer para cá gente que quer conhecer o Brasil… Por causa disto, estou assumindo um papel mais ativo no JIA – por que que não fazemos mais contatos entre nós? Vocês não mandam nada que se possa publicar; as únicas notícias que recebo são do Vicente Wissenbach e do Mario Pini, todo mês. Os concursos são um caminho difícil, pela concorrência dos estrangeiros – porque não criar um clima de integração comercial, com os descendentes nisseis e sanseis? Por que não começar com isto?
Bem, vou passar alguns slides.
Vocês não vão acreditar, esta é a equipe do Gasperini em 1975, e lá estou eu, aquele japonês bem magrinho, com muito cabelo. Aqui é Brasília, com Miho segurando meu filho nascido aqui, o Leo. Este é um prédio na Bahia, o Centro de Convenções. Foi o resultado de um Concurso Nacional no qual Hector Vigliecca, duas jovens arquitetas da FAU e eu tínhamos tirado o 1¼ Prêmio. No fim, foi construído o projeto de Maurício Roberto (2¼ Prémio)… neste lugar, deveria ter um outro prédio!
Bem, estamos em 1985, quando resolvi me manter em Tóquio e recomeçar tudo no Japão, abrindo o meu escritório. Este é o Paço Municipal de Tóquio, do Kenzo Tange, fruto de uma época de boom econômico. Este é o edifício sede da Cia. de Gás – chamada de torre de “Bubble” (ou Torre de Babel)? Esta é a cidade de Yokohama, uma cidade nova, construída sobe aterro, com o grande Centro de Convenções. Um outro grande centro, do Maki, a caminho do aeroporto de Narita, que ele mostrou ontem em sua palestra do MASP. São todas construções de tamanho – monstro.
Este é um projeto interessante, em Maku Hari, um parque cercado por uma zona residencial. Foi feito um Plano Piloto, com a participação de arquitetos do mundo inteiro – estou também trabalhando nele. Uma rua principal já foi construída nos últimos anos – cada fachada corresponde a um edifício projetado por um arquiteto diferente, cada bloco tendo 200 apartamentos. Cada construtora contrata 4 arquitetos diferentes, sendo que 80% das fachadas tem que ser necessariamente de alvenaria. Estou trabalhando com um outro arquiteto, sendo que esta colaboração deve continuar até o ano 2000, quando 10 a 15% do total já estará construído, com a participação de 30 a 40 arquitetos contratados.
Esta casa é o primeiro projeto meu construído no Japão – uma pequena casa dentro da cidade. Os críticos disseram que tem muito jeito de arquitetura brasileira – tem um páteo interno e a sala de jantar no subsolo. O terreno é muito estreito, com 4 metros por 20 de comprimento.
Esta é a segunda casa, totalmente cercada por outras casas, sendo muito apertados e o código de obras muito restritivo. Tentei, mesmo assim, fazer algo bom, fugindo das imagens do Tadao…
Esta é uma outra casa, de 1990, num bairro residencial. Comecei fazendo casas… Nesta casa de campo, construída com madeira, de madeira bem tradicional japonesa. Me diverti muito, já que as esquadrias de madeira tem tudo a ver com a tradição local.
Há uma forte presença brasileira nestas casas – afinal, passei dos 27 aos 37 anos de idade estudando com vários mestres brasileiros – meu trabalho desta época tem muito a ver com o que temos aqui, de uma forma indireta.
Aqui temos casas germinadas para duas famílias. Casas grandes, muito especiais, nas quais usei concreto, pela primeira vez utilizando a linguagem de Maki – compondo com painéis de alumínio e esquadrias desenhadas pelo escritório. Duas casas com dois portões: as famílias são obrigadas a manter um bom relacionamento, não podem brigar…
Este é um conjunto habitacional, projetado 3 a 4 anos depois da abertura do escritório – foi 1¼ lugar numa concorrência fechada por uma construtora, com 260 apartamentos e 14 andares nos edifícios – mais alto do que isto haveria grandes restrições legais.
Este é um edifício recente, de alojamentos de funcionários da Companhia de Gás – nos dois pisos interiores há showrooms – são no todo 120 apartamentos, bem pequenos, com 20 m2 de área útil. A Companhia pediu que, pelo lado de fora, o edifício não parecesse um prédio de habitação. Assim, usei uma fachada de alumínio, uma solução de “curtain wall” totalmente fabricada em Singapura pela metade do preço do Japão. Isto é uma realidade em meu país: por exemplo, as peças dos edifícios do Maki vem do mundo inteiro.
Esta é uma outra casa, bem no centro de Tóquio, com recuos de 30/40 centímetros – o conforto ambiental da casa é oferecido pelo páteo no meio. Usei cerâmicas especiais na fachada, com espaçamento de 3 em 3 metros.
Este é o típico projeto da época do “bubble” – um estudo urbanístico até o executivo completo; dois meses antes do início da obra, foi suspenso… O projeto se inspira em velas de um iate – o programa pedia um hotel no meio e um iate-clube com 700 barcos – uma marinha. Esta é a maquete do conjunto.
Este é outro projeto que “sumiu” ! Desenvolvido nos anos 92/93 para Nankim, China – foi feito para uma empresa chinesa e até hoje, não consegui receber… O projeto final foi feito na China, a 5% do preço do Japão !
Este último é um projeto grande que estou fazendo hoje. A obra deverá começar em setembro ou outubro. A minha equipe está trabalhando sem parar… esta é a maquete do estudo preliminar.
Finalmente, esta é uma foto da equipe do meu escritório, quando estivemos em viagem em Singapura.